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Bonfim, um universo de beleza

Reportagem: Kithi 
Imagens: Kithi e Edvaldo Passos

"Bom começo de tudo é o Bonfim", disseram os compositores Capinan e Roberto Mendes.

 

Mata de São João começa literalmente no Bonfim.

A construção da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim e Nossa Senhora da Conceição é o fator determinante para iniciar e consolidar a tradição de fé e devoção ao Santo. a Festa do Bonfim acontece todos os anos no mês de fevereiro.

São nove dias de  liturgia católica e quatro dias de festa com programação intensa: a tradicional lavagem com a presença do povo de santo, atletismo, parque de diversão, corrida de bicicleta, apresentações musicais, trios elétricos, capoeira, corrida de cavalo...

Ajá fôlego para acompanhar.

25/02/2019

Êpa Babá!

Bonfim, onde tudo começou

Bonfim. Lugarejo pacato, bairro pertencente a sede do município, que guarda no silêncio das ruas histórias da tradição.

 

Depois de mudar-se de lugar por duas vezes, a aldeia de São João finalmente encontrou paragem em 1561. 

No local chamado de Coqueiro da Água Comprida de Mata de São João, nas margens do rio Jacuípe, no sítio Jacupema foi construída, entre os anos de 1756 a 1761, a Capela do Senhor do Bonfim e Nossa Senhora da Conceição.

Os Jesuítas do Colégio de Salvador viveram neste local a catequizar os índios, predominantemente Tupinambá, até 1759, quando foram expulsos pela Coroa de Portugal e seus bens confiscados e incorporados ao tesouro público real.

Essa é a segunda igreja da Bahia em devoção a Senhor do Bonfim. A primeira está na Colina Sagrada, em Salvador.

Construída por iniciativa de Bento Vieira Paes, homem de negócio estabelecido na aldeia de Mata de São João, o templo é até hoje o “símbolo de uma das maiores devoções do local”, como consta no livro “Mata de São João, um Registro de Memória”, organizado por Erenilda Amaral.

A fé em Senhor do Bonfim é o assunto que nos levou a descobrir o interior de Mata de São João, onde está situada a sede do município.

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Bonfim 

Longe do glamour das praias conhecidas mundialmente encontramos um povo forte, hospitaleiro e alegre, cujo prazer da vida é manter suas tradições vivas.

Tem Festa do Bonfim, Missa do Vaqueiro, carnaval, São João, festa de final de ano, festa, festa e festa... neste lugar a baianidade existe na sua essência: um povo que ama celebrar.

BOM COMEÇO DE TUDO É O BONFIM

Chega o tempo da Festa do Bonfim de Mata de São João e a Mzad, nossa empresa, recebe o convite para participar da cotação para fazer a projeção mapeada no frontal da Igreja do Bonfim durante a festa deste ano.

Eu estava em casa com depressão por conta das coisas da vida quando Negão chegou e, literalmente, me obrigou a sair da cama dizendo: "sem você não vou conseguir fazer", eu levantei e retruquei: "eu vou dirigindo". Dirigir é uma das coisas que mais amo fazer.

Chegamos a sede do município de Mata de São João, até então, desconhecida para nós, às 11:30. Tínhamos encontro marcado para 12:00h.

Estávamos no mês de janeiro de 2019 e um sol causticante brilhava no céu. O calor intenso junto com a necessidade de beber água me levou ao bar de Sr. Afonso. Visível do coreto, situado em frente à igreja.

Foi quando o milagre aconteceu. Graças a Senhor do Bonfim, a tristeza foi embora e a alegria voltou a pulsar entre nós, o meu estado abalava a todos ao meu redor.

O bar ainda mantém o estilo das antigas mercearias. Vende de tudo um pouco. Isto me chamou a atenção de imediato.

Sr. Afonso trabalha no local há 48 anos. Por trás do balcão ele viu e ouviu histórias de todos os tipos. Sempre pronto a ajudar, por várias vezes deixou sua "venda" com os fregueses para socorrer quem chegava pedindo auxílio. Viu até menino nascer em seu carro...

Tranquilo, nos recebeu de braços abertos. Monossilábico, mas inteiramente presente, ouvia tudo que falávamos. 

Depois de um “par de prosa” perguntamos: o senhor nos concede uma entrevista? E ele respondeu “sim”, sem pestanejar.

Uma luz brilhou em meus olhos. Minha criança foi despertada. Era a revista Assum Preto re-nascendo naquele exato momento do “sim”, da forma mais simples e mais verdadeira para mim, que encontro nos afazeres e histórias do povo a alegria de viver.

Depois de conversar com Sr. Afonso a tristeza foi embora, a fé aumentou e a felicidade chegou...

Estávamos somente chegando em “Nosso Senhor do Bonfim da Mata de São João”, primeiro nome do município após virar freguesia rural da cidade de Salvador, no ano de 1761.

Na  conversa com Sr. Afonso descobrimos uma antiga estação de trem, a torre inexistente (desmoronou), a ladeira do milagre e o matadouro de Amado Batista. Confira nos vídeos abaixo. 

O sonho de Sr. Afonso em ver a história da cidade e os patrimônios locais cuidados pode se tornar realidade. Também é o sonho do Secretário de Cultura de Mata de São João.

Sr. Afonso fala sobre a história do

Bonfim

​Márcio e Edmilson falam sobre o Alto do Milagre

Alexandre Rossi, Secretario de Cultura

e Turismo de Mata, fala do sonho de reconstruir o matadouro...

Erenilda Amaral, no livro Mata de São João um Registro de Memória,  chama atenção para o fato da Aldeia de São João integrar a rota do "sinal de fumaça"que partia de Tatuapara, em Praia do Forte, para Salvador.

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Foto de Fernando Fonseca

O sinal de fumaça era a forma que os portugueses encontraram para avisar do perigo que chegava pelo mar. 

Fonte: retirada do livro Mata de São João um Registro de Memória de Erenilda Amaral 

DIAS INTENSOS DE TRABALHO

Para realizar os dois trabalhos: montar essa reportagem, a nº 1 da Assum Preto, e criar o vídeo base para a projeção, era imprescindível conhecermos a história e as pessoas do lugar.

 

Dentro de nós pulsava fazer uma vídeo projeção que o povo pudesse “se ver e se identificar” como parte significativa daquilo que estávamos fazendo. Assim também pensava o pessoal da prefeitura.

Aliando os dois movimentos, a Revista Assum Preto e a projeção mapeada da Mzad, as nossas idas a Mata de São João se intensificaram para a realização da pesquisa.

Fizemos fotos de fitinhas, de gente, de imagens sacras... coletamos imagens dos arquivos da prefeitura, assistimos inúmeros vídeos, lemos livros e principalmente, conversamos com muita gente.

Mesmo com tudo isto nós não imaginávamos a dimensão da festa. São quatro dias com programação intensa... é preciso muito fôlego para acompanhar tudo... pegamos só alguns pedacinhos... é preciso muito tempo para elaborar tudo que vivemos...

A programação passa por apresentações de grupos locais, grandes astros da música baiana, blocos de carnaval, bandinhas, lavagem, trio elétrico, corrida de cavalo, capoeira, corrida de bicicleta, atletismo... além da novena que encerra com a procissão pelas ruas da antiga estrada do Bonfim, saindo da casa de Preta para a Igreja.

É intenso o movimento.

Viva Senhor do Bonfim!

A FESTA DE SENHOR DO BONFIM DE MATA DE SÃO JOÃO

Fesa do Bonfim de Mata de São João - baianas

Conforme Erenilda Amaral, a Festa do Senhor do Bonfim de Mata de São João teve início no século XVIII, mais precisamente em fevereiro de 1756.

O novenário era iniciado com a lavagem da igreja e nos últimos três dias de novena acontecia a festa no largo com apresentações de batucadas e filarmônicas.

No último domingo acontecia a procissão e a Missa Solene pela manhã. Na segunda-feira gorda do Bonfim era realizada a corrida de cavalos.

Hoje, em 2019, acontece, de forma ampliada o mesmo ritual, sendo que a festividade foi antecipada para o início da novena, ao invés de acontecer no final.

Fincada na memória dos antepassados, a Festa do Bonfim de Mata de São João segue a trajetória ancestral, incluindo periodicamente, elementos culturais da contemporaneidade, sem perder de vista o principal: a fé em Nosso Senhor do Bonfim ou Oxalá, que alimenta de esperança o sonho acordado de viver.

A cada ano uma novidade.

Assim chegaram os palcos, as barracas padronizadas, os trios elétricos...

Sr. Afonso nos fala da Festa do Bonfim de antigamente e da Festa de hoje.

Este ano, a inovação ficou a cargo da projeção mapeada no frontal da igreja do Bonfim, cujas imagens refletiram a trajetória da festa pelo tempo, a benção de Senhor do Bonfim e de Nossa Senhora da Conceição e o pedido de paz, de amor e de prosperidade para as pessoas.

O cortejo é um dos momentos mais esperado por todos. A frente dele as sacerdotisas do candomblé, vestidas de baianas ou roupas litúrgicas, abrem “os caminhos” para a população que as seguem.

Carregando vasos de barro com água de cheiro - água com perfume de alfazema - e flores, geralmente brancas, as baianas saem da frente da prefeitura em direção a Igreja do Bonfim.

Mãe Adélia, do terreiro Ilê Omim Axé vai à frente do cortejo jogando milho branco nas pessoas. O milho branco, no candomblé, é oferenda de Oxalá, e nesse momento é utilizado para abençoar a todos com  abertura dos caminhos, com a paz, com a prosperidade e com o amor.  

Seguindo as baianas vem a fanfarra, os Filhos de Gandhy, a burrinha e o povo impulsionado pela fé que move montanhas.

A projeção mapeada ficou linda. Veja. A empresa Mzad Eventos quem fez.

"Você já foi à Bahia, nega? Não? Então vá! Quem vai ao “Bonfim”, minha nega, Nunca mais quer voltar. Muita sorte teve, muita sorte tem, muita sorte terá" (Dorival Caymmi)

Olha o cortejo aí gente. Assista ao vídeo.

A LAVAGEM DO ADRO DA IGREJA

A origem do culto ao Senhor do Bonfim vem da cidade de Setúbal em Portugal onde foi erguida, em 1669, uma pequena igreja chamada Anjo da Guarda primeiramente e depois igreja do Senhor do Bonfim.  

A crença no santo ganhou força em Portugal após promessa feita por Dom João V, para o restabelecimento da saúde do pai D. Pedro II, frente a imagem do Senhor do Bonfim. 

Igreja do Bonfim de Setubal

Foto: Francisco Oliveira Site : Andarilhar

A promessa feita pelo capitão-de-mar-e-guerra, Theodózio Rodrigues de Faria, natural de Setúbal, durante uma tempestade em alto mar, trouxeram para Salvador, em 18 de abril de 1745, a réplica da imagem do Senhor do Bonfim e de Nossa senhora da Guia.

Somente em 1754, depois da conclusão das obras internas, as imagens foram levadas da Capela da Penha para a Colina Sagrada. Nesse período foi criada a devoção de Senhor do Bonfim pela Irmandade de Leigos e reconhecida pelo arcebispo Dom José Botelho de Matos.

A festa litúrgica dedicada a Senhor do Bonfim tem início em 1773, no segundo domingo de janeiro, Domingo da Epifania, ou seja, o momento de revelação de Jesus ao mundo.

Nessa mesma data, por conta dos preparativos para a festa, a Irmandade dos Devotos Leigos obrigou os escravos a lavarem a Igreja.

No início a festividade tinha características das tradições portuguesas, depois, com o passar do tempo, Senhor do Bonfim foi sincretizado com Oxalá e a festa ganhou outro formato: o brasileiro.

Na África, os antepassados realizavam um culto especial em colinas, fazendo procissão com potes de águas para lavagem do lugar sagrado.

No culto ao Senhor do Bonfim, na Colina Sagrada, os escravos tiveram, por ordem da irmandade, que lavar o templo para celebração ao Senhor do Bonfim, Jesus Cristo, o filho de Deus, invocado como Pai Soberano de todos os Santos.

A memória da celebração realizada na África e a forma que os escravos estavam presentes na homenagem a Senhor do Bonfim, lavando o espaço numa colina sagrada, pode ter sido o elo que constituiu o sincretismo religioso e a dimensão da festa, sustentada pela fé em Oxalá, Senhor do Bonfim ou Jesus Cristo, a depender de quem fala. 

 “É o momento em que esses africanos e afro-descendentes constroem uma identidade coletiva e se reconhecem enquanto comunidade solidária,

mesmo que hierarquizada” como cita Érika Mendes.

Para alguns autores o sincretismo se deu, visivelmente, a partir da lavagem do Bonfim.

Considera-se o ano de 1804 como o primeiro ano da lavagem oficial, nos conta Luís Américo Bonfim, no texto “Lavagem do Bonfim: Tradições e Representações da Fé na Bahia”. 

Em 1890 houve a proibição da lavagem na parte interna do templo e o ritual passou a ser realizado no lado de fora da igreja, no adro e nas escadarias.

Sobre a Festa do Senhor do Bonfim encontramos muitos escritos. A história é mais ou menos a mesma, com algumas poucas variações. A história do Senhor do Bonfim de Mata de São João, muitas vezes se assemelha com a história do Senhor do Bonfim da Colina Sagrada, mas o que vale mesmo é a FÉ em caminhar junto ao Grande Pai.

“Andar com ƒé eu vou, que a fé não costuma faiá!" (Gilberto Gil) 

A tradução é automática do Google. A interpretação correta só pode ser verificada na língua de origem, português.
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